A Bahia se mantém como um dos principais cenários de conflitos agrários no Brasil, com 144 ocorrências registradas em 2024, afetando mais de 10 mil famílias. Os dados são do relatório "Conflitos no Campo Brasil 2024", divulgado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), que coloca o estado em terceiro lugar nacional em disputas fundiárias, atrás apenas do Pará (266) e do Maranhão (188). No Nordeste, a Bahia ocupa o topo do ranking, com confrontos majoritariamente ligados a posse de terras, incluindo ocupações lideradas por indígenas, quilombolas e sem-terra.
Além das disputas territoriais, o estado registrou cinco casos de trabalho análogo à escravidão em lavouras de café, sisal e pecuária, com 27 trabalhadores resgatados – incluindo adolescentes. A CPT alerta para a persistência do problema em setores como o sisal, marcado por precariedade histórica. Outra crise destacada é a dos 22 conflitos por água, que atingiram 3.646 famílias no semiárido, onde projetos de irrigação para monoculturas e privatização de recursos ameaçam comunidades tradicionais.
O documento denuncia a atuação do grupo "Invasão Zero", formado por fazendeiros e empresários baianos, acusado de promover violência contra acampamentos e pressionar por leis que criminalizam a luta pela terra. Segundo a CPT, essas ações "ameaçam direitos constitucionais" e intensificam a violência no campo.
Em nível nacional, o número de trabalhadores rurais resgatados caiu de 2.663 (2023) para 1.622 em 2024. A CPT atribui a redução à greve dos Auditores-Fiscais do Trabalho, que paralisou operações de combate à escravidão. "A greve explica, mas esconderá o avanço da prática?", questiona o relatório, que desde 1985 documenta conflitos e resistências no campo brasileiro.
O relatório completo está disponível no site da CPT e reúne dados de fontes como movimentos sociais, sindicatos e lideranças locais, reforçando seu papel como principal registro da luta por justiça agrária no país.